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Medicina de precisão, o novo caminho da oncologia

Tratamento vai se adequar ao paciente, não o oposto


Passou a era em que o mesmo tratamento oncológico servia para todos. Já percebemos há tempos que somente alguns pacientes aproveitavam a eficácia das terapias tradicionais. A tecnologia confirma que o câncer é muito mais complexo do que se imaginava, com distinções marcantes dos mesmos tipos de tumor entre os indivíduos. Estudos recentes em pacientes com câncer de vários sítios primários, como rim e mama, mostram que existem alterações moleculares e mecanismos de crescimento diferentes, invasão e metástases distintas, dependendo da área em que é feita a biópsia do tumor. São como digitais, específicas de cada indivíduo. Este foi o tema do Congresso da Sociedade Americana de Oncologia, realizado há poucos dias: a medicina de precisão. Com o mote "Delivering Discoveries: Expanding the Reach of Precision Medicine" (algo como "Fazendo Descobertas: Expandindo o Alcance da Medicina de Precisão"), o evento focou esta nova forma de medicina em oncologia, útil não só para opção de estratégias, como drogas dirigidas para alvos específicos do tumor, mas também para manter as taxas de cura em altos índices com escolhas mais simples.

Um exemplo disso é o câncer de mama. Ganhou destaque na imprensa mundial o estudo TAILORx, que analisou o papel de 21 genes (avaliados no próprio tumor) para a escolha do tratamento de um dos tipos mais comuns da doença, evitando quimioterapia (e seus efeitos colaterais) e adotando somente a hormonioterapia. A avaliação conseguiu, com segurança, eleger as pacientes que se beneficiariam do tratamento menos agressivo, com chances de cura de 83% a 97%, apenas com a terapia hormonal, poupando cerca de 70% das pacientes de tratamento quimioterápico. Do mesmo modo, a medicina de precisão aponta quando as novas formas de imunoterapia são mais eficientes que a quimioterapia para o câncer de pulmão não pequenas células metastático. A sinalização é baseada na expressão da proteína PD-L1, que inibe a ação dos linfócitos, os guardiães da imunidade. Em um estudo que incluiu 1.274 pessoas, pacientes tratados com imunoterapia apresentaram redução do risco de morte de 19% a 31%, dependendo da expressão da proteína PD-L1. Ainda na área de testes para selecionar os tratamentos, a presença de um receptor de andrógeno alterado chamado AR-V7, encontrado em alguns tumores de próstata, mostra que alguns dos novos hormônios não funcionam. Os resultados selecionam esses pacientes para tratamentos mais efetivos com quimioterapia. Para câncer de bexiga, uma nova droga que ataca um receptor alterado em 15% a 20% dos tumores, chamado "receptor do fator de crescimento do fibroblasto", foi responsável por 40% das chances positivas de resposta, comparado a somente 5% das drogas tradicionais. O mesmo ocorre no câncer de próstata, que expressa a proteína PSMA em sua membrana. O uso da droga radioativa lutécio foi ligado a essa proteína, com uma taxa de resposta de 60% em 50 pacientes com doença muito avançada e que já haviam falhado em outras terapias. Centros brasileiros devem utilizar a estratégia ainda este ano. Nos tumores do cérebro, duas vacinas ainda experimentais prometem prognósticos animadores. A primeira, feita a partir do próprio tumor do paciente e de partes das proteínas relacionadas a ele, demonstrou taxas de sobrevida de duas a três vezes maior que as obtidas com as medicações atuais. A segunda vacina, produzida a partir de uma mutação específica chamada IDH1, revelou taxas de resposta com extensa inflamação em 37% e controle de doença em quase 90%. Nessa nova era, a da medicina de precisão, com o auxílio da tecnologia e a descoberta de novas moléculas, trataremos os indivíduos como únicos. O paciente não mais vai se adequar ao tratamento, mas sim o tratamento a ele. O desafio agora, como sugeriu o evento americano, é expandir o alcance dos achados científicos para o maior número de pessoas em todo o mundo.


Fonte: Folha de São Paulo

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