Refletindo sobre Gestão & SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem três grandes objetivos: acesso universal; equidade de acesso conforme as necessidades; integralidade e continuidade dos cuidados. O SUS, ao longo de seus 30 anos, apresenta mais pontos positivos que negativos com crescimento mais intensivo na rede de assistência básica. Porém, em contrapartida, acompanha-se a redução do número de leitos, principalmente na rede privada na prestação de assistência ao SUS.
Muitos dos avanços e descompassos se vinculam ao processo de judicialização; o qual é tratado nas reuniões dos Conselhos de Saúde. Sobre este foco, os juízes apresentam sua visão jurídica sobre o processo de judicialização; enquanto os administradores, a visão mais técnica e global do processo. Através desta visão mais ampliada, estes profissionais podem contribuir na qualificação e redução do número de processos.
Os desafios da saúde para este ano de mudança, crise e transformações, passa pela melhoria da gestão, aprimoramento do modelo assistencial, mudanças no modelo de remuneração, de uma área de recursos humanos e TI com foco mais estratégico, e processo de faturamento integrado aos processos assistenciais geradores de informação. Os processos precisam ser mapeados, definidos e se necessário redesenhados com foco na atividade fim, no cliente e na melhoria dos resultados.
Hoje o hospital é uma das organizações mais complexas do mundo, composta por uma variedade de profissionais; em alguns municípios é a organização que mais serve refeições e lava roupas no dia-a-dia; seu modelo de negócio é comparado à um aeroporto, aonde a competência de seus gestores em administrar a entrada de pacientes (torre de controle) com qualidade e velocidade (seleção dos procedimentos com melhores margens e necessidades de atendimento) da sua permanência na instituição farão com que tenham indicadores de assistência, econômico financeiro e de qualidade adequados para o seu funcionamento e sobrevivência.
A necessidade de melhoria da gestão e uma cultura de melhoria de resultados, com a gestão efetiva de indicadores de desempenho econômico e financeiro, são fatores críticos de sucesso para a sobrevivência das organizações da saúde.
O processo de tomada de decisão deve estar fundamentado em fatos e dados, com o uso de sistemas de informações, seus módulos de BI (Business Intelligence) são fundamentais para a melhoria dos resultados. O uso da tecnologia tem apoiado e melhorado os processos da saúde de atenção básica e hospitalar; os atendimentos primário, secundário e terciário devem estar cada vez mais integrados através do uso de prontuário eletrônico e tecnologia da informação para que o processo de referência e contra referência seja efetivo.
Atualmente o sistema remuneratório empregado, é de determinada forma “perverso”, pois acaba remunerando, muitas vezes a inabilidade de alguns profissionais, ao invés de competência propriamente dita. É importante que este sistema seja revisto, com premissas mínimas de: Remuneração fixa e variável; custos diretos; glosas; custo corporativo (áreas de apoio e suporte disponibilizadas para a operação do serviço); e remuneração pela gestão (segurança assistencial, econômico-financeiro e reciprocidade). A gestão deve ser realizada com o suporte de um painel de indicadores, entre os quais podemos citar: Receita Bruta; Participação sobre a receita total; Resultado Líquido; Percentual de lucratividade; Receita operacional; Percentual de internações com previsão de alta; Percentual de prescrição fora do horário; Percentual de prescrição sem evolução; Percentual de altas com preenchimento da nota de alta; Quantidade de protocolos implantados; entre outros que podem ser desenvolvidos conforme a necessidade e as especificidades da instituição.
A preocupação com o cenário de desperdício, que hoje representa em média 33% com: retrabalho; exames redundantes; mecanismos de fraude para utilização de recursos; contando com orçamentos limitados e gastos de forma imprópria.
Além das necessidades operacionais e de gestão, ainda temos presente a “pressão” da sociedade. Há o aumento das doenças; falta de políticas de promoção e prevenção; alta expectativa de informação; governança desestruturada que sobrecarrega o sistema, propiciando a insustentabilidade. Alta carga de doenças infecciosas; baixo índice de água tratada (nível nacional); bem como, taxas de cobertura de esgoto irrisórias, na média de 30%.
Faz-se necessária a quebra de paradigmas: médicos mais propositivos, com mente aberta nas mudanças que estão acontecendo (com maior necessidade de conhecimento de gestão); segurança jurídica; politicas definidas; planejamento estratégico; avaliar o desempenho de todos os envolvidos no sistema; aprimorar competências; melhorar e elevar a produtividade; focar na eficiência dos processos por intermédio da tecnologia de informação.
Ou seja, mais política de saúde e menos política na saúde.